POLÍCIA FEDERAL
ORGULHO NACIONAL


Pra não dizerem que não falei da "greve"...

Pra não dizerem que não falei da "greve"...

08/08/2011 05:37:00

Pra não dizerem que não falei da "greve"...

Por Valacir M. Gonçalves

Lembrei do Vandré e do seu antológico título pra canção “Pra não dizer que não falei das flores”, quando do movimento feito por alguns integrantes da PF recentemente. Uma faixa pedia “Deixem a Polícia Federal trabalhar”. Engrosso o pedido, mas a polícia continua atuante, embora algumas coisas tenham mudado depois da “Operação Satiagraha”. Foi o auge de uma fase taxada de “pirotécnica”, e ainda pouco explicada. Ela mostrou (alguns) funcionários públicos sendo acusados de não entenderem o significado da palavra limite... Serviu também para dar holofotes e mandato político a quem se imaginou maior do que a Instituição. Ficou de concreto a intervenção do STF e o estabelecimento de mecanismos que deixaram claro quem é quem aqui no lado debaixo do Equador... 

As operações fizeram escola, ganharam outros nomes sugestivos, viraram rotina depois dos vinte minutos de fama das suas antecessoras... Hoje, instituições estão sendo fortalecidas e equipadas para ajudar a PF nas suas atribuições... Um ensinamento reapareceu com força: quem vira canibal de si mesmo abre espaços para serem preenchidos... Parodiando outra canção, lembro que, em vez de conquistas, restaram as cicatrizes das batalhas travadas pelos Quixotes caboclos contra os moinhos de verdade. A terceirização também chegou com força e na mesma proporção dos conflitos entre as categorias. Manifestos são divulgados, enquanto lideranças negociam separadas com um governo que não manifesta disposição alguma de atender reivindicações inadiáveis. Não é uma tarefa fácil, mas estas negociações precisam ter a força que só a união por uma causa comum proporciona.

Para chegarmos nesse consenso, é preciso mais. É preciso abandonar preconceitos enraizados. É preciso entender que todos devem estar com o coração aberto... Motivos não faltam para fazer movimentos e, também, para não fazê-los. Mas as negociações devem ser levadas à exaustão, sem dar motivos para previsíveis rompimentos. Algumas foram feitas com sucesso no passado; outras foram emblemáticas, também, e, embora realizadas por outras instituições, deixaram ensinamentos. Lembro dos bancários e dos petroleiros, atividades essenciais cujos movimentos foram enfraquecidos, e lutam para ressurgir das cinzas. Hoje, bancos realizam concursos com salários distantes daqueles pagos antes das máquinas substituírem trabalhadores, enquanto os petroleiros viram seu Sindicato receber multas quase impagáveis.

Não custa lembrar. A história ensina que entidades de classe só podem exercer um poder real, dentro do sistema político, se puderem fazer uso da sua energia fundamental: a capacidade de mobilizar a base. A pergunta é inevitável: a categoria está suficientemente mobilizada para fazer frente a enfrentamentos duros e longos? Colocar faixas que não sensibilizam ninguém muda alguma coisa ou mostra apenas um jogo de cena que não vai além do tímido apoio das “fontes” de sempre... Correndo o risco de não ser entendido, ouso afirmar que realizar assembleias sem consenso é perda de tempo. Mais: vejo a luta pela volta dos penduricalhos que lotavam nossos contracheques. Depois de anos de luta para acabar com eles, dizem agora que a solução é fatiar ganhos que não são levados na aposentadoria, a qual um dia chegará para todos. Mas não vou me estender nisso, não é prudente pisar em minas...

Não existe nada pior para os nossos interesses do que a desunião. Na era da comunicação instantânea, das redes sociais e por aí afora, isso é fácil de ser incentivado. Num tempo em que o individualismo cresce sem parar, tudo é motivo para dar munição a desagregadores. A conjuntura política mostra que negociadores precisam estar munidos de dados irrefutáveis na hora de enfrentar um arrocho salarial sufocante, que empobrece cada vez mais o nosso poder de compra. Quem esquecer que a adesão de todos a movimentos é fundamental demonstra uma alienação incompreensível. Não querer levar isso em conta é banalizar algo importante demais para ser subestimado.

Os que “não agüentam mais”, os que “já estão de saco cheio”, e outras afirmações do gênero, precisam entender que isso não é privilégio de ninguém. Teses “brilhantes e inovadoras” agradam ouvidos desavisados - difícil é executá-las. É fácil defender enfrentamentos, fazer roleta russa com a cabeça dos outros é mole... Já as greves deixam marcas pesadas, mas existe algo pior: sair delas sem perspectiva alguma.

Os sindicatos são independentes. A responsabilidade de congregar profissionais de nível superior dá a eles a missão de fazer avaliações corretas da conjuntura e do momento atual - coisas que fazem com competência, mas a PF tem em seus quadros servidores em estágio probatório, e outros com pouco tempo na Instituição. Queimar etapas não é uma atitude racional.

O que é debatido e votado em congressos nacionais da categoria precisa ser acatado. Comportamentos agressivos ou conservadores não podem ser levados em conta. O que fazer? De que maneira? Não existe receita pronta, mas é evidente que isso deve ser o resultado de políticas e estratégias decorrentes da convicção da maioria. Concentrar forças é fundamental. Precisamos lutar por coisas exequíveis, sabendo que só nós temos o controle das nossas vidas. É algo óbvio, mas não pode ser esquecido.

e-mail vala1@uol.com.br
blog www.valacir.com

autor/fonte: Por Valacir M. Gonçalves
publicada em 02/08/2011

 

O SINPEF/MS defende os direitos dos policiais federais